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Yara Cherry reencontra Pipa de sua infância

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Ela tem 21 anos, fala seis idiomas, já foi modelo em Paris, trabalhou na Chanel, cantou ópera por uma década. Mas um convite para interpretar Sophie na novela “Velho Chico”, na Globo, fez a francesa Yara Charry trilhar caminhos novos. A experiência como atriz a encantou tanto que ela decidiu ficar no Brasil para estudar e se dedicar ao novo ofício.

No Brasil, Yara Cherry participou de duas novelas. Em Malhação ela vive uma das protagonistas. Tudo indica que a decisão foi acertadas, pois Yara já assumiu seu segundo papel na televisão. Atualmente ela interpreta Jade Poitier, protagonista de “Malhação: Vidas Brasileiras”. Nesta nova fase da novela, a personagem vai fazer de tudo para realizar seu grande sonho: ser uma cantora famosa. O pontapé para Jade dar início ao seu sonho será a gravação de um clipe. O vídeo foi produzido semana passada na Praia da Pipa, litoral sul do Rio Grande do Norte, onde parte do elenco da novela esteve no local para filmar as cenas.

Pipa não é um lugar desconhecido para Yara. Ao VIVER a atriz conta que já visitou várias vezes o lugar quando criança, nas viagens ao Brasil com seu pai. Nesta entrevista, ela fala sobre a expectativa de filmar na praia potiguar, dá detalhes sobre a nova fase de sua personagem, comenta sobre a importância de protagonistas negros na TV e conta como tem sido a vida no Brasil, onde vive há quase dois anos.

Tribuna do Norte – Yara, você já conhece o Nordeste brasileiro? Já ouviu falar da Pipa?

Yara Charry – Já fui para Pipa muitas vezes quando era criança, mas para gravar é a primeira vez. Meu pai, que sempre foi apaixonado pelo Brasil, organizava férias para meu irmão e para mim, com propósito de conhecermos o país. Espero poder ver um pouco mais da região, de repente num dia de folga ou em uma brecha das gravações. Mas, com certeza, terei chances de voltar e apreciar ainda mais, como já fiz muitas vezes. É um lugar que já me encanta só de olhar.

TN – Gostaria que você falasse um pouco sobre as gravações. De que forma as cenas em Pipa se encaixam no novo rumo da sua personagem?

YC – Jade é uma personagem que me permite explorar coisas que amo, seja a moda (ela é toda stylish) e, claro, a própria música. Pipa é um cenário que deixa qualquer um de boca aberta, então acredito que a beleza da praia, esse “tom” de liberdade e leveza que a natureza proporciona, tem muito a ver com o amadurecimento da Jade na trama, e com sua intensidade mostrada ao longo da história. Sendo assim, para mim, é uma espécie de autoconhecimento e realização de sonhos da minha personagem.

TN – Você tem experiência com o canto lírico e ópera. Agora que você está vivendo no Brasil, já deu pra conhecer muita coisa da música brasileira?

YC – A música popular brasileira tem uma mistura incrível de componentes europeus, africanos e, também, indígenas, e são essas junções de elementos que, certamente, me chamam atenção e fazem da música brasileira algo único. Ou seja, alguns ritmos são, de fato, muito cativantes. Se eu pudesse listar o que tenho apreciado no momento, eu citaria Melim. É uma banda que tem um estilo voz e violão, e eu amo esse tipo de canção. Me faz despertar para dentro.

TN – Logo em seu primeiro papel, na novela “Velho Chico”, sua personagem foi exposta à uma situação de racismo. Você, como mulher negra e europeia, sente que aqui a discriminação é maior?

YC – A discriminação existe no mundo todo, não é mesmo? Lamentavelmente é isso. Mas, claro, no Brasil temos essa questão muito latente, parece tristemente enraizada, assim como vemos um preconceito absurdo em relação a sociedade LGBTQI+ também, que nos coloca no ranking como o país que mais mata gays e trans. Temos estatísticas horríveis, também, em relação a morte de mulheres, sobre tudo de mulheres negras. É só estudarmos e veremos, em pesquisas, que o assassinato de mulheres negras, no Brasil, cresceu muito nos últimos dez anos. Esses são exemplos que evidenciam como ainda somos perseguidos pela cor da pele e orientação sexual. Contudo, é importante, claro, termos otimismo, porque ninguém nasce preconceituoso.

TN – Nessa nova temporada de Malhação Jade será uma das personagens centrais. Como é viver uma protagonista?

YC – É um presente. Estou vivendo um sonho lindo na Malhação, que é uma novela de gerações e com um público muito fiel. Viver uma protagonista requer muito foco, bastante estudo, assim como qualquer outro papel. Claro que ter momentos centrais na trama é algo bem desafiador para qualquer ator, mas também é maravilhoso, porque vivemos experiências das mais diferentes, e isso só agrega para a evolução da personagem

TN – Como atriz estrangeira no Brasil, quais os desafios que você precisou transpor?

YC – Estou muito feliz no Brasil e não pretendo seguir qualquer outra carreira e em nenhum outro país. Claro que não foi fácil chegar e nem é permanecer, mas todo o processo aqui tem sido orgânico. Em relação a dificuldades, acredito que a maior delas tenha sido o idioma. O português não é tão fácil, mas é lindo e empolgante. Tenho me dedicado tanto que alguns amigos já até dizem que sou carioca.

TN – Como foi deixar a vida em Paris para vir morar no Brasil? São sociedades muito diferentes, com ritmos de vida muito diferentes?

YC – As maiores diferenças que vejo são em relação ao clima. Em Paris, tudo é mais gelado e eu estava, praticamente sempre, usando casacos. Já no Brasil, por ser um país bem praiano, a gente tende a usar roupas mais leves. E é uma delícia poder ir para a praia jogar vôlei com os amigos. Onde eu morava, na França, não existia praia. Outra coisa que notei, também, é que o brasileiro é mais caloroso. Já os franceses tendem a ser mais reservados. Tenho um pouco dos dois.

TN – Na questão de representatividade, as TVs francesas são mais abertas que a brasileira?

YC – Acredito que ambas buscam debater assuntos sociais. Cada um tem sua forma de trazer uma abordagem. O que importa, para mim, é ter espaço de fala para as minorias. Sabemos que isso é importante, isto é, quando vemos negros, gays, mulheres e, também, trans fazendo teatro, estando com papeis nas novelas, com oportunidade de participarem de filmes, entre outras expressões artísticas, me faz pensar que, mesmo engatinhando, estamos devolvendo as pessoas o sentimento de estarem vivas de verdade. Isso é representatividade para mim.

 

Fonte: Tribuna do Norte