A indústria do “ser” ao invés do “ter” vai se sobressair quando a crise se acabar. O Turismo ganhará mercado, embora deixando algumas perdas pelo meio do caminho, desde que os empresários façam os ajustes necessários para o curto prazo, mas sem tirar perspectiva de médio e longo prazos.
Quem assim enxerga é o consultor sênior da Rosenberg Grottera Business e Branding, Luis Grottera. O autor do artigo é criador da metodologia Branding Como Modelo de Gestão. Foi o responsável pelo rebranding do Beach Park em 2012 e, desde então incrementou seu portfólio no setor com projetos para empresas como Atlântica, Grupo GPK de Gramado, Costa do Sauípe, Snowland, Termas de Jurema, Slaviero, somando mais de 20 negócios.
Leia na íntegra:
A INDÚSTRIA DO TURISMO VAI GANHAR MERCADO PÓS CRISE
Por Luis Grottera, da Rosenberg Grottera Business e Branding
Nos últimos dez anos tenho desenvolvido vários projetos para a área do Turismo. Desenvolvi know-how, procedimentos, critérios, métricas para o setor. Passei a ter um enorme carinho por essa indústria e, ao conhecê-la a fundo, tinha absoluta convicção que essa seria uma das indústrias de maior crescimento no mundo durante esse século.
Até que um raio caiu sobre a cabeça da terra e nos encontramos no auge do pandemônio da pandemia! E os players do Turismo sendo abalroados por todos os lados: quarentena, cancelamento de reservas, gerenciamento de fluxo de caixa … até mesmo o risco de virem a ser forçados a receber potenciais doentes em suas instalações, coisa dramática para o branding dos hotéis.
Nesses 30 dias de quarentena, entre os calls realizados para ajudar meus clientes a saírem da crise, tenho lido muito e escutado muitas fontes. E refletido. Não estou entre aqueles que acreditam que essa crise vai trazer transformações profundas. Todos nós vamos estar preocupados em recuperar os negócios. Teremos mudanças pontuais expressivas, tais como um espaço cada vez maior para o home office e reuniões por call, no nosso cotidiano. Vai ser um reinício duro.
O Turismo vai sofrer transformações. Como em toda recessão, alguns players do setor vão ganhar share, outros perderão, os que já vinham com problemas correrão risco sério. Mas não creio que terá mudanças estruturais e que haverá uma reinvenção. Até porque o Turismo é uma indústria que já vem passando por transformações profundas na última década. Não conheço nenhuma indústria que mudou tanto na área de comercialização e distribuição. Não há nenhum negócio tão multichannel.
Por outro lado, acredito que haverá uma mudança dos valores dos consumidores pós coronavírus: o crescimento da importância do SER, em contraposição ao TER. Nada adiantou TER um supercarro, parado durante a quarentena. Nada adiantou TER a maior e melhor televisão do mercado, se o dono dela ficou com os olhos grudados para assistir notícias ruins, que só ampliavam o seu medo. Armários lotados de roupas não utilizadas, relógios caros que marcavam um tempo inerte.
Em compensação, fez muita diferença SER uma pessoa com a cabeça mais aberta, com uma visão de mundo mais ampla, com a dimensão da vida pelo país e pelo mundo, com uma relação mais íntima com a natureza.
A experiência do Turismo é campeã em gerar esses valores. É ela que nos faz ter uma visão da diversidade, de entender novos pontos de vista, de apreender a riqueza humana e a importância essencial de preservar a natureza. É vitoriosa uma pessoa em sua casa, sentada na poltrona, lembrando de sua viagem à Europa, a visita ao parque aquático brincando que nem criança com seus filhos, a última viagem romântica para uma pousada de charme, ou o momento em que conheceu a imensidão da Cachoeira da Fumaça, na Chapada Diamantina.
Para sustentar esse ponto de vista, gostaria de destacar o twitter do correspondente da Reuters na China, sobre o ocorrido no primeiro final de semana que a China aliviou a quarentena: as atrações turísticas do país superlotaram! O governo aproveitou a data do Qing Ming, quando reverenciam seus ancestrais e ofereceram entradas gratuitas no final de semana, em homenagem aos mortos na pandemia. Foi o suficiente para superlotar as atrações turísticas.
Vale a pena também ler a pesquisa realizada pela PANROTAS e a Consultoria MAPIE (neste link), cujas principais conclusões provam a maturidade com que o consumidor do Turismo está tratando o setor e os seus sonhos de viagem. Destaco: 55% das pessoas entrevistadas foram impactadas em suas viagens já planejadas. Desses apenas 23% cancelaram, as demais adiaram ou estão esperando os desdobramentos. É muito significativo. Tanto o índice de 55% da amostra que tinham viagens planejadas ou compradas, como o fato que apenas um quarto dessas pessoas saírem no desespero a cancelar suas compras.
Diante desse quadro, recomendo a todos players dessa indústria que mantenham o otimismo sobre o futuro. Que façam os ajustes necessários para o curto prazo, sem tirar de perspectiva o médio e longo prazo, pois cortes realizados no momento do desespero custam muito caro para serem refeitos. Que não percam o foco para as transformações e melhorias que já vinham fazendo nos seus negócios. Que aperfeiçoem suas orientações de administrar tendo como alvo o melhor para o consumidor. Que protejam e agreguem valor em torno da sua marca, porque o branding será, mais do que nunca, vital para o sucesso do seu negócio depois que toda essa confusão terminar. Afinal o Réveillon vai chegar. O carnaval de 21 também. E a guerra vai voltar a ser quem ganha mais mercado.
Fonte: PANROTAS